A sociedade da informação não existe.
Fonte:
http://webinsider.uol.com.br/index.php/2009/04/01/a-sociedade-da-informacao-nao-existe/
01 de abril de 2009, 22:43
Em qualquer época, a informação (e as
redes que a sustentam) foi fundamental para manter o equilíbrio
entre a população e suas necessidades. Analisar a nossa sociedade
como a da informação é um erro teórico.
Volta e meia o problema volta.
?Nós que vivemos na sociedade da
informação?.
“Agora, nessa sociedade da informação?.
“Agora, nessa sociedade da informação?.
Isso é quase um carro da pamonha que passa todo
dia aqui na porta. Vamos dar um tempo e parar para pensar! (Já
tratamos do assunto aqui,
mas vamos aprofundar.)
Ok, sem dúvida, precisávamos separar alguma
coisa na Economia antiga para essa nova.
- Antes, estávamos baseados em algo palpável. Não existia software, banco de dados;
- O setor de serviços não era tão importante;
- A marca das empresas não era um fator com tanta diferenciação;
- O trabalhador era braçal e não vendia poucas horas do seu cérebro;
- Em algum momento, principalmente com a globalização, o aumento populacional e, como consequência, a chegada do computador, fomos digitalizando o mundo e todos os registros que tínhamos sobre ele.
Assim, realmente estamos em outra sociedade
diferente da construída pela Revolução Industrial. Certo?
Mas será que é a da Informação?
A necessidade de conceituar e teorizar sobre
determinado objeto visa facilitar a nossa aproximação de
determinado problema.
- Uma teoria que consegue comprovar determinada lógica do objeto estudado ao longo do tempo é uma teoria consistente.
- Uma teoria que se mostra cheia de problemas quando acompanhamos o objeto atrapalha, é uma teoria improcedente.
Você pode utilizar a teoria que quiser para
enfrentar problemas práticos, mas quando começar a patinar é
momento de rever se pegou o trator (conceitos e teorias) que vai
realmente te tirar do atoleiro.
Há uma mudança na sociedade e precisamos
chamá-la de outro nome – o volume da informação cresceu e
pimba: “sociedade da informação!”.
Foi bom para você? Sim, mas agora não é mais
suficiente. Esse conceito afundou na realidade.
Vamos pegar um exemplo para demonstrar que a
quantidade de informações é proporcional ao número de
habitantes.
Vejamos o Brasil com dados arredondados:
Ano – Habitantes
1550 - 15 mil
1660 - 184 mil
1760 - 1.800.00 mil
1860 - 8.500 mil
1960 - 70 milhões
2000 - 170 milhões
1550 - 15 mil
1660 - 184 mil
1760 - 1.800.00 mil
1860 - 8.500 mil
1960 - 70 milhões
2000 - 170 milhões
(fonte)
Hoje - 191 milhões
(fonte)
Nossa população praticamente se multiplicou por
10 a cada 100 anos. Note que hoje para resolver as necessidades de
cada pessoa é preciso:
- Multiplicar por três as refeições na mesa todos os dias, ou 573 milhões de pratos de comida ( a cada dia!)
- Multiplicar por dois o vestuário necessário para trabalhar e dormir, ou 382 milhões de tipos de roupas (se considerarmos que cada tipo de roupa tem meia, sapato, calça, roupas de baixo, etc) é muito mais.
Some ainda lazer, transporte, educação,
comunicação… o volume de dados necessários para manter essa
população viva é gigantesco, gerando uma quantidade informacional
absurda para que possamos resolver nossas necessidades.
No livro “Here Comes Everybody”, de Clay
Shirky (página 27), o autor traz uma visão interessante, que tenta
demonstrar que o aumento das pessoas no ambiente não cresce apenas
em número, mas cada vez mais em complexidade.
Ou seja, quanto mais gente, mais do que
crescimento aritmético, temos pelo aumento do número de relações,
uma expansão geometrica da complexidade.
Veja a figura abaixo:
Ou seja, quando saltamos de 15 mil, em 1550 para
191 milhões hoje em dia, ganhamos aritmeticamente em tamanho e
explodimos geometricamente em complexidade.
Em todas estas situações a informação (e as
redes que a sustentam) foram fundamentais para manter o equilíbrio
entre a população e suas necessidades.
Todas foram sociedades da informação,
aritmeticamente e geometricamente compatíveis com o número de
habitantes e a complexidade que a articulação entre as pessoas
necessitou em cada etapa.
Quanto mais fomos evoluindo, mais precisamos
sofisticar os ambientes de informação, suas redes
de conhecimento. É uma relação proporcional que ganha mais e
mais complexidade a cada passo.
O ambiente oral precisou da escrita (para
deixarmos recados) e deste partimos para a rede digital, com o
computador (pavimentando e virtualizando o mundo, gerando
processadores de dados fora das nossas cabeças), e ainda
introduzimos a colaboração a distância do muito para muitos,
conectando e permitindo a interação entre pessoas sempre à
procura de relevância para sobrevivermos nesse mar informacional
cada vez mais largo e profundo.
Ou seja, temos o sistema de informação
compatível com o volume da população, nem mais nem menos.
Analisar a nossa sociedade como a da
informação, como
diz Castells, é um erro teórico.
(O mesmo vale para sociedade do conhecimento.)
Temos que ver não o que sempre foi, mas onde
realmente somos diferentes. A saber, um cardápio para escolha:
- Sociedade do imaterial. Nunca tivemos ou vendemos registros em computadores antes (estudemos o imaterial);
- Sociedade do intangível. Nunca o que não pode ser pego ou tocado, valeu tanto (estudemos o intangível);
- Sociedade do capital intelectual. Nunca demos tanto valor ao trabalho mental (estudemos o capital intelectual);
- Sociedade digital. Nunca estivemos em um mundo digitalizado (estudemos o digital);
- Sociedade em rede digital. Idem, idem.
Temos que direcionar nossos esforços para
compreender nossa sociedade, naquilo que realmente temos de novo e
como vamos nos adaptar a essa nova realidade.
E não colocar cabelo em ovo e ficarmos perdidos
sem entender a lógica do processo, patinando na areia da praia.
Quando erramos o alvo, tão longe, acabamos
inventando um mundo que não existe. Gestões
de uma porção de novidades que só nos atrapalham.
O ser humano não muda suas necessidades básicas,
apenas sofistica aqui e ali. Somos, de certa forma, os mesmos, mas
muitos mais no planeta.
Precisamos, em função disso, de um ambiente
informacional mais sofisticado, com o qual precisamos nos adaptar e,
ao mesmo momento, corrigir na nossa forma de organizar, mais
compatível com a nova realidade, o que não dava antes por falta de
condições de articulação no ambiente passado.
(Note que a guilhotina é filha do livro e
tirou a cabeça dos reis para criar o modelo do Governo que temos
hoje.) [Webinsider]
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